A UERGS E A UTOPIA DA CIDADE DAS ARTES
TEXTO CURTO
Michele Martines
Michele Martines é artista e pesquisadora na área de pintura. Graduada em Artes Visuais pela UERGS, mestra e doutoranda pelo PPGART/UFSM. Site www.michelemartines.com
RESUMO
O texto versa sobre a instalação do núcleo de artes da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul no município de Montenegro RS e sua mudança para a capital do estado. A UERGS iniciou suas atividades no ano de 2002 com a proposta de descentralizar o acesso à educação pública, instalando-se em vinte e quatro municípios do interior gaúcho. Em parceria com a Fundação Municipal de Artes de Montenegro foram ofertados os cursos de Artes Visuais, Dança, Música e Teatro nesta cidade, trazendo novas perspectivas de desenvolvimento do setor na região. A fragilidade do núcleo de Artes frente às mudanças governamentais gerou desafios constantes para manter e defender a permanência dos cursos. Em 2022, após vinte anos, a UERGS decidiu transferir os cursos de Artes para a capital do estado, Porto Alegre.
Revista Arte ConTexto
REFLEXÃO EM ARTE
ISSN 2318-5538
V.8, Nº19, MAIO, ANO 2024
PERSPECTIVAS PARA ALÉM DA VISÃO
Com uma universidade nasce a expectativa de desenvolvimento, qualificação e inovação. Há vinte anos a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) iniciou suas atividades como “uma instituição pública e gratuita, descentralizada e regionalizada, multicampi, […] voltada para o desenvolvimento da vocação regional, comprometida com o social, inovadora e contemplando reserva de vagas para alunos carentes” (SILVA, 2021, p. 4-5). A UERGS abriu campus em vinte e quatro municípios, e Montenegro, cidade onde nasci e onde vivo, conquistou o núcleo de artes. Em parceria com a Fundação Municipal de Artes de Montenegro – Fundarte, passaram a ser ofertados os cursos de licenciatura em Artes Visuais, Dança, Música e Teatro. Eu, que já havia frequentado cursos básicos da Fundarte, fiz parte da primeira turma do curso de graduação em Artes Visuais.
Professores e colegas, vindos de diferentes cidades e estados, trouxeram reflexão artística, conhecimento e diversidade. A região do Vale do Caí possuía então uma universidade pública onde discutiam-se as vanguardas do ensino e da pesquisa em arte. Foi neste contexto que produzi a obra “Meu duplo observando minha pintura” (2005), que rendeu minha primeira premiação em Salão de Artes, e a obra “Lanche Feliz” (2004), que hoje integra o acervo do Museu de Arte do Rio Grande do Sul – Margs.
Daquele início de percurso recordo a sensação de estar vivenciando um renascimento cultural no município. Concomitante à instalação dos cursos de Artes da UERGS, Montenegro recebeu o título “Cidade das Artes”. Neste período também aconteceu a restauração do complexo de prédios que antigamente pertenciam à Rede Ferroviária, que passou a chamar-se Estação da Cultura. No grande prédio central foi instalado o Museu de Arte de Montenegro – Mam. O prédio da Fundarte também foi ampliado, com a construção de novas salas, um teatro e uma galeria de artes. A galeria, especialmente com a parceria da UERGS, veio ocupar um espaço importante de disseminação da arte contemporânea na região, entregando à comunidade exposições com proposta curatorial qualificada e acompanhamento educativo.
Para os estudantes, em sua grande maioria oriundos de outras cidades, estudar em Montenegro também representava um desafio devido à escassez de empregos, o custo das passagens e a busca por moradia. No ano de instalação da universidade um jornal local relatou esta realidade através da matéria “Alunos da UERGS enfrentam o desafio da falta de empregos”. Foram ouvidos estudantes que passaram a residir no município e outros que viajavam diariamente. O tom das respostas manifestava esperança quanto ao potencial a ser desenvolvido, assim como o parágrafo que encerra a matéria:
A parceria UERGS /Fundarte está apenas começando. Em 2005, o núcleo da Universidade Estadual deverá ter 320 estudantes. Por isso Montenegro entra definitivamente em um processo de amadurecimento como polo cultural gaúcho. Um ensino superior de qualidade, democrático em sua estrutura. Capaz de atrair a atenção do Brasil por seu comprometimento com o ensino superior só pode ser benéfico à comunidade montenegrina (Jornal Ibiá, 2002).
Como vantagem, o interior apresenta maior segurança e menor custo de vida do que a capital. Inúmeros estudantes tiveram oportunidade de formação que não teriam em outras condições. A instituição cumpria um papel importante na região do Vale do Caí, composta por dezenove municípios. Formou profissionais que hoje atuam no ensino superior e no ensino básico, artistas e produtores culturais. Porém, a fragilidade do núcleo de Artes relativa ao governo estadual mostrou-se já no princípio, a cada troca de governo, novos desafios para defender a permanência desses cursos e até mesmo sua existência. Acreditando na importância do projeto, o corpo discente assumiu a responsabilidade de lutar pela instituição. Neste percurso de vinte anos muitas lutas foram travadas, manifestos, passeatas e reuniões com representantes políticos. A instabilidade gerava uma propaganda negativa que consequentemente diminuía a procura pelos cursos.
A situação de convênio entre Fundarte/ UERGS aconteceu durante os primeiros dez anos. Após este período a UERGS locava o espaço da Fundarte para o funcionamento dos cursos. Houve um distanciamento entre as instituições e no corpo docente da UERGS havia uma movimentação para que a unidade passasse a atuar em Porto Alegre, com a justificativa de haver maiores possibilidades de crescimento.
O contexto da pandemia Covid-19 agravou a situação. Tenho observado a preocupação de docentes de diferentes instituições de ensino superior em Artes com relação à evasão de estudantes após a pandemia. Para o núcleo de Artes da UERGS este fator somou-se à necessidade da sede própria e a dificuldade com o transporte, sendo que a única empresa de ônibus local retirou a linha noturna que prestava serviço aos estudantes e professores que residem na capital. Por fim, após completar vinte anos, em 2022, o Conselho Superior da UERGS decidiu pela transferência dos cursos de Artes para a capital, Porto Alegre. Com o anúncio desta decisão, a então diretora da Fundarte, Julia Hummes, também professora de música, em entrevista para o Sindicato dos Técnicos Administrativos da UFRGS, UFCSPA e IFRS – Assufrgs, manifestou preocupação com o impacto da decisão:
Acredito que Porto Alegre já está amplamente abastecida com atividades e cursos culturais. Temos é que abastecer o interior do estado, ampliar a descentralização da cultura e do ensino. Muitos dos meus alunos, ao longo dos últimos anos, formaram suas próprias bandas, produziram sua cultura nas cidades da nossa região (ASSUFRGS, 2022).
O cenário político da última década não foi favorável ao desenvolvimento das artes e da cultura. Montenegro, como muitas cidades do interior do Rio Grande do Sul, tem histórico político conservador e, na atualidade, parte da população defende ideias que marginalizam a pesquisa em arte e a produção artística contemporânea. A importância dos cursos de Artes, vindos de fora, atuando neste contexto, também representava uma resistência cultural e política.
Se o desejo do município era tornar-se um polo cultural, é notório que não houve políticas públicas a fim de fortalecer a Cidade das Artes. Nestes anos, por raríssimas vezes cargos como o da Diretoria de Patrimônio Histórico e Cultural (responsável pelo complexo Estação da Cultura) foram ocupados por pessoas da área. Sem recursos e sem profissionais qualificados, o que temos são espaços mal assistidos. Da mesma forma, a Fundarte precisava continuar ampliando sua infraestrutura para seguir sediando os cursos.
A UERGS era a única instituição de ensino superior pública do Vale do Caí e promovia o desenvolvimento educacional, cultural e artístico em toda a região. A cidade do interior perdeu a Universidade Estadual e tudo o que ela representava, mas há um legado que fica. Multiplicaram-se as escolas de arte no município, fundadas por egressos dos cursos. Houve estudantes que, vindos de outros lugares, acabaram se estabelecendo permanentemente na cidade.
A Fundarte completou cinquenta anos em 2023. Antes da parceria com a UERGS já existia uma instituição forte e consolidada. O título “Cidade das Artes” pressupõe um lugar interessante, com uma população criativa, aberta ao diálogo, rica em cultura. Montenegro deixará escapar também este título? A UERGS mudou-se e a “Cidade das Artes” precisa se reinventar para acontecer.
A UERGS E A UTOPIA DA CIDADE DAS ARTES
TEXTO CURTO
Michele Martines
Michele Martines é artista e pesquisadora na área de pintura. Graduada em Artes Visuais pela UERGS, mestra e doutoranda pelo PPGART/UFSM. Site www.michelemartines.com
RESUMO
O texto versa sobre a instalação do núcleo de artes da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul no município de Montenegro RS e sua mudança para a capital do estado. A UERGS iniciou suas atividades no ano de 2002 com a proposta de descentralizar o acesso à educação pública, instalando-se em vinte e quatro municípios do interior gaúcho. Em parceria com a Fundação Municipal de Artes de Montenegro foram ofertados os cursos de Artes Visuais, Dança, Música e Teatro nesta cidade, trazendo novas perspectivas de desenvolvimento do setor na região. A fragilidade do núcleo de Artes frente às mudanças governamentais gerou desafios constantes para manter e defender a permanência dos cursos. Em 2022, após vinte anos, a UERGS decidiu transferir os cursos de Artes para a capital do estado, Porto Alegre.
Revista Arte ConTexto
REFLEXÃO EM ARTE
ISSN 2318-5538
V.8, Nº19, MAIO, ANO 2024
PERSPECTIVAS PARA ALÉM DA VISÃO
Com uma universidade nasce a expectativa de desenvolvimento, qualificação e inovação. Há vinte anos a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) iniciou suas atividades como “uma instituição pública e gratuita, descentralizada e regionalizada, multicampi, […] voltada para o desenvolvimento da vocação regional, comprometida com o social, inovadora e contemplando reserva de vagas para alunos carentes” (SILVA, 2021, p. 4-5). A UERGS abriu campus em vinte e quatro municípios, e Montenegro, cidade onde nasci e onde vivo, conquistou o núcleo de artes. Em parceria com a Fundação Municipal de Artes de Montenegro – Fundarte, passaram a ser ofertados os cursos de licenciatura em Artes Visuais, Dança, Música e Teatro. Eu, que já havia frequentado cursos básicos da Fundarte, fiz parte da primeira turma do curso de graduação em Artes Visuais.
Professores e colegas, vindos de diferentes cidades e estados, trouxeram reflexão artística, conhecimento e diversidade. A região do Vale do Caí possuía então uma universidade pública onde discutiam-se as vanguardas do ensino e da pesquisa em arte. Foi neste contexto que produzi a obra “Meu duplo observando minha pintura” (2005), que rendeu minha primeira premiação em Salão de Artes, e a obra “Lanche Feliz” (2004), que hoje integra o acervo do Museu de Arte do Rio Grande do Sul – Margs.
Daquele início de percurso recordo a sensação de estar vivenciando um renascimento cultural no município. Concomitante à instalação dos cursos de Artes da UERGS, Montenegro recebeu o título “Cidade das Artes”. Neste período também aconteceu a restauração do complexo de prédios que antigamente pertenciam à Rede Ferroviária, que passou a chamar-se Estação da Cultura. No grande prédio central foi instalado o Museu de Arte de Montenegro – Mam. O prédio da Fundarte também foi ampliado, com a construção de novas salas, um teatro e uma galeria de artes. A galeria, especialmente com a parceria da UERGS, veio ocupar um espaço importante de disseminação da arte contemporânea na região, entregando à comunidade exposições com proposta curatorial qualificada e acompanhamento educativo.
Para os estudantes, em sua grande maioria oriundos de outras cidades, estudar em Montenegro também representava um desafio devido à escassez de empregos, o custo das passagens e a busca por moradia. No ano de instalação da universidade um jornal local relatou esta realidade através da matéria “Alunos da UERGS enfrentam o desafio da falta de empregos”. Foram ouvidos estudantes que passaram a residir no município e outros que viajavam diariamente. O tom das respostas manifestava esperança quanto ao potencial a ser desenvolvido, assim como o parágrafo que encerra a matéria:
A parceria UERGS /Fundarte está apenas começando. Em 2005, o núcleo da Universidade Estadual deverá ter 320 estudantes. Por isso Montenegro entra definitivamente em um processo de amadurecimento como polo cultural gaúcho. Um ensino superior de qualidade, democrático em sua estrutura. Capaz de atrair a atenção do Brasil por seu comprometimento com o ensino superior só pode ser benéfico à comunidade montenegrina (Jornal Ibiá, 2002).
Como vantagem, o interior apresenta maior segurança e menor custo de vida do que a capital. Inúmeros estudantes tiveram oportunidade de formação que não teriam em outras condições. A instituição cumpria um papel importante na região do Vale do Caí, composta por dezenove municípios. Formou profissionais que hoje atuam no ensino superior e no ensino básico, artistas e produtores culturais. Porém, a fragilidade do núcleo de Artes relativa ao governo estadual mostrou-se já no princípio, a cada troca de governo, novos desafios para defender a permanência desses cursos e até mesmo sua existência. Acreditando na importância do projeto, o corpo discente assumiu a responsabilidade de lutar pela instituição. Neste percurso de vinte anos muitas lutas foram travadas, manifestos, passeatas e reuniões com representantes políticos. A instabilidade gerava uma propaganda negativa que consequentemente diminuía a procura pelos cursos.
A situação de convênio entre Fundarte/ UERGS aconteceu durante os primeiros dez anos. Após este período a UERGS locava o espaço da Fundarte para o funcionamento dos cursos. Houve um distanciamento entre as instituições e no corpo docente da UERGS havia uma movimentação para que a unidade passasse a atuar em Porto Alegre, com a justificativa de haver maiores possibilidades de crescimento.
O contexto da pandemia Covid-19 agravou a situação. Tenho observado a preocupação de docentes de diferentes instituições de ensino superior em Artes com relação à evasão de estudantes após a pandemia. Para o núcleo de Artes da UERGS este fator somou-se à necessidade da sede própria e a dificuldade com o transporte, sendo que a única empresa de ônibus local retirou a linha noturna que prestava serviço aos estudantes e professores que residem na capital. Por fim, após completar vinte anos, em 2022, o Conselho Superior da UERGS decidiu pela transferência dos cursos de Artes para a capital, Porto Alegre. Com o anúncio desta decisão, a então diretora da Fundarte, Julia Hummes, também professora de música, em entrevista para o Sindicato dos Técnicos Administrativos da UFRGS, UFCSPA e IFRS – Assufrgs, manifestou preocupação com o impacto da decisão:
Acredito que Porto Alegre já está amplamente abastecida com atividades e cursos culturais. Temos é que abastecer o interior do estado, ampliar a descentralização da cultura e do ensino. Muitos dos meus alunos, ao longo dos últimos anos, formaram suas próprias bandas, produziram sua cultura nas cidades da nossa região (ASSUFRGS, 2022).
O cenário político da última década não foi favorável ao desenvolvimento das artes e da cultura. Montenegro, como muitas cidades do interior do Rio Grande do Sul, tem histórico político conservador e, na atualidade, parte da população defende ideias que marginalizam a pesquisa em arte e a produção artística contemporânea. A importância dos cursos de Artes, vindos de fora, atuando neste contexto, também representava uma resistência cultural e política.
Se o desejo do município era tornar-se um polo cultural, é notório que não houve políticas públicas a fim de fortalecer a Cidade das Artes. Nestes anos, por raríssimas vezes cargos como o da Diretoria de Patrimônio Histórico e Cultural (responsável pelo complexo Estação da Cultura) foram ocupados por pessoas da área. Sem recursos e sem profissionais qualificados, o que temos são espaços mal assistidos. Da mesma forma, a Fundarte precisava continuar ampliando sua infraestrutura para seguir sediando os cursos.
A UERGS era a única instituição de ensino superior pública do Vale do Caí e promovia o desenvolvimento educacional, cultural e artístico em toda a região. A cidade do interior perdeu a Universidade Estadual e tudo o que ela representava, mas há um legado que fica. Multiplicaram-se as escolas de arte no município, fundadas por egressos dos cursos. Houve estudantes que, vindos de outros lugares, acabaram se estabelecendo permanentemente na cidade.
A Fundarte completou cinquenta anos em 2023. Antes da parceria com a UERGS já existia uma instituição forte e consolidada. O título “Cidade das Artes” pressupõe um lugar interessante, com uma população criativa, aberta ao diálogo, rica em cultura. Montenegro deixará escapar também este título? A UERGS mudou-se e a “Cidade das Artes” precisa se reinventar para acontecer.
Referências Bibliográficas
SILVA, Alexssander Nascentes da. Texto de Contextualização Histórica sobre a Criação da UERGS. Porto Alegre, 2021.
Disponível em: https://admin.uergs.rs.gov.br/upload/arquivos/202107/12140122-texto-contextualizacao-historica-criacao-uergs.pdf. Acesso em: 13 mar. 2024.
Jornal Ibiá. Alunos da UERGS enfrentam o desafio da falta de empregos, Montenegro, 17/08/2002. Seção: Geral.
ASSUFRGS – Sindicato dos Técnicos Administrativos da UFRGS, UFCSPA e IFRS. A unidade da UERGS será fechada em Montenegro. Porto Alegre. 2022. Disponível em: https://www.assufrgs.org.br/2022/11/18/unidade-da-uergs-sera-fechada-em-montenegro/. Acesso em: 13 mar. 2024.
Referências Bibliográficas
SILVA, Alexssander Nascentes da. Texto de Contextualização Histórica sobre a Criação da UERGS. Porto Alegre, 2021.
Disponível em: https://admin.uergs.rs.gov.br/upload/arquivos/202107/12140122-texto-contextualizacao-historica-criacao-uergs.pdf. Acesso em: 13 mar. 2024.
Jornal Ibiá. Alunos da UERGS enfrentam o desafio da falta de empregos, Montenegro, 17/08/2002. Seção: Geral.
ASSUFRGS – Sindicato dos Técnicos Administrativos da UFRGS, UFCSPA e IFRS. A unidade da UERGS será fechada em Montenegro. Porto Alegre. 2022. Disponível em: https://www.assufrgs.org.br/2022/11/18/unidade-da-uergs-sera-fechada-em-montenegro/. Acesso em: 13 mar. 2024.
Lista de Imagens
Capa – Placa “Cidade das Artes”, no Parque Centenário, em Montenegro RS. Fotografia: Michele Martines.
Lista de Imagens
Capa – Placa “Cidade das Artes”, no Parque Centenário, em Montenegro RS. Fotografia: Michele Martines.