Manejo Movente | Biografia
Manejo Movente é uma proposição de Raquel Versieux, realizada com a colaboração de Elis Rigoni e Lucas Tavares.
Nasce no Crato, Ceará, em 2019, como projeto que integra a exposição 36º Panorama da Arte Brasileira Sertão, com curadoria de Júlia Rebouças, realizada no MAM-SP, de 17 de agosto a 17 de novembro de 2019.
Apresenta-se como um ciclo de encontros construídos em parceria com moradores de duas comunidades rurais locais, o Assentamento 10 de Abril e Distrito Baixio das Palmeiras, distantes cerca de 40 km uma da outra. Tem programação diversa, agregando oficinas, caminhadas, performances, rodas de conversa e mutirões de plantio, em busca de ativar reflexões e trocas em torno da política das terras e a produção de imagem, voltando-se para os contextos específicos sociais, da constituição histórica e do presente experienciado pelos moradores e demais participantes.
Encerrada a exposição Panorama, catalisadora da realização do Manejo Movente, o projeto segue sendo realizado, com adequações no formato e novas ações a serem realizadas em fevereiro e março de 2020.
Aqui apresentamos uma das ações que integrou a programação do encontro realizado em 14 de setembro de 2019 e recebeu o nome de Zona Temporária de Descanso, agregando pessoas das duas comunidades envolvidas no projeto. Os participantes foram convidados a trazer suas redes de dormir de casa para instalar em um espaço sombreado sugerido pelos moradores. O local onde se constituiu o redário foi uma mata de caatinga por detrás da Casa de Farinha Mestre Zé Gomes, localizada no Baixio das Palmeiras, ex-propriedade particular cedida pela família à comunidade para usufruto coletivo, salvaguardando assim o patrimônio de importância histórica e cultural, sendo a única casa de farinha ainda erguida na região, hoje desativada das funções originais.
Revista Arte ConTexto
REFLEXÃO EM ARTE
ISSN 2318-5538
V.6, Nº16, DEZ., ANO 2019
ARTE E EDUCAÇÃO
GALERIA ARTE CONTEXTO
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Manejo Movente agradece especialmente a Lucia, Peteca, Assis Nicolau, Bebé, Zé de Teta, Nina, Liro, Kaká, Gabriel, Didi, Zezé, D Ana, Cícera Ana, José Lourenço, Sofia, Pedro, Cícero, Teresa, Ju, Ana Clara, Louzinha, Larissa, Rubens e Mônica.
O descanso como tema dessa proposta aponta ao menos duas considerações, sobre a jornada de trabalho daqueles que lidam com a terra para seu sustento e são os próprios gestores de suas atividades, ficando assim, muitas vezes, sem folga planejada e tempo livre para o lazer, e também um descanso em relação à espera e transtornos referentes aos impactos da construção do Cinturão das Águas do Ceará. Essa última, uma obra pública de grande escala que tem trazido de forma lamentável, distintos níveis de consequências negativas à essas comunidades, especialmente a iminência da remoção de 30 famílias que já estão sendo indenizadas por suas casas, pois estas, seus quintais e roçados estão no rumo do traçado onde será implementado o canal que dá continuidade a transposição das águas do rio São Francisco.
De forma antagônica, o acesso a água que chega pelo canal não é livre, pois é controlado pelas prefeituras e governo do estado, responsáveis pela redistribuição. Uma recente onda de especulação imobiliária nas proximidades do traçado do canal tem direcionado nossa reflexão para o fato de que essa água será designada ao agronegócio, atendendo interesses privados de grandes concorrentes à agricultura familiar.
Ao longo do dia, as redes foram usadas de forma livre, por pessoas de diversas idades. Seu arranjo desenhou um espaço instalativo inserido na paisagem, atuando como imagem temporária. A atmosfera criada ao seu redor, mesclando espaços privados e públicos, foi de muita conversa, relembrando casos, viagens, histórias de amor, de trabalho, de luta e de resistência. A noite se encerrou com ralação da macaxeira e o preparo de beijus assados, ao som do forró!