Maria Baigur | Biografia
Vive e trabalha no Rio de Janeiro | RJ, 1981
Maria Baigur nasceu em Salvador, BA. Artista Visual, é formada pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, e desde 2013 participa de exposições individuais e coletivas. Em 2021, foi uma das vencedoras do XVI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, da décima edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, e também do II Prêmio Reynaldo Roels Jr. Suas obras fazem parte da Coleção Joaquim Paiva, em comodato com o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Seu trabalho tem início na fotografia, e segue para um campo ampliado, se desdobrando em séries, objetos, vídeos e instalações.
Revista Arte ConTexto
REFLEXÃO EM ARTE
ISSN 2318-5538
V.7, Nº18, MAR., ANO 2023
ACESSO À CULTURA
GALERIA ARTE CONTEXTO
Acompanhe sua produção em: @baigur_bluesband e mariabaigur.com
#essemomento
#essemomento é um projeto da artista Maria Baigur, que teve como ponto de partida a venda de 100 faixas de ráfia com a expressão “esse momento”. Mantra disseminado por Baigur em forma de objeto; sua venda começou um pouco antes do carnaval pandêmico, em abril de 2022. A artista reuniu para a série, fotografias do deslocamento das faixas pelas ruas do Rio de Janeiro no meio do bloco, no meio das ondas, ou atrapalhando o trânsito das ruas do Saara – no mercadão tradicional, a faixa aberta, em sua primeiríssima versão, tem 3 metros de comprimento.
A expressão “esse momento” flutuando esticada sobre as nossas cabeças, torna literal a suspensão do tempo do instante da foto – aquele milésimo de segundo. A escolha do local para a fotografia, e a decisão de quando apertar o botão na tela do celular para sacar a tal foto, também insistem: fotografar é agir sobre o tempo. A assertiva é óbvia ululante, já sabemos. A fotografia entendida como a capacidade de arrancar alguma coisa ou um acontecimento, de congelar um semblante para fora do tempo que escorre no ralo, sem nos dar muita trégua.
Maria Baigur tem trabalhado com o campo ampliado da fotografia, e esse projeto desdobrado em diferentes camadas faz com que ela se pergunte: Preciso fotografar? Como? Onde? O quê? A operação da artista, ao colocar à venda 100 múltiplos de “esse momento”, fez com que a faixa pudesse ser carregada e fotografada em diversas situações, por amigos, e conhecidos de Maria e, também, por estranhos. O movimento do próprio objeto desloca o trabalho da artista de fotografar. Não é mais sobre de quem é a foto; queremos saber desse objeto/corpo fotografado – a faixa –, e em quais situações ela foi aberta e suspensa. A venda e a distribuição das peças, como também a faísca produzida pelas postagens da própria artista com a faixa no metrô em movimento, na calçada do bar, carregando a filha em seu braço e a filha segurando a faixa, deram início a uma espécie de “jogo social”, que diz sobre a afetação do sujeito ao ser fotografado – sim, fazemos pose diante da fotógrafa! –, como escrevera Barthes, em A câmara clara. Mas, em Baigur, o “jogo social” perfaz a vida e a sobrevida dos muitos “esses momentos” surfados nas redes sociais.
O “Jogo Social” como Valor de Exposição
As imagens das faixas vão se mostrando bem exibidas para a artista, via postagens nos aplicativos Facebook, Instagram etc. Ela é espectadora de seu próprio projeto. Coleta, agrupa e reposta as imagens de autorias alheias. “Esse momento” virou hashtag: #essemomento. O projeto de Baigur é filho, fruto de nossa vida instagramável, de cada momento tornado público. Então o instante da foto passa a ser a duração do trajeto percorrido por essas imagens publicadas, repostadas, compartilhadas na rede, em seus inúmeros formatos. Imagens fantasmáticas repetem o gesto de sustentar “esse momento”, e boiam erráticas na internet, sem lenço nem documento, demandando na sua mostração pública alguns likes – um valor de exposição? Maria Baigur pode, por exemplo, não saber de onde estão vindo nem para onde estão indo… Opa! Virou uma figurinha de Whatsapp! Essa falta de controle da artista sobre as imagens geradas pelo projeto, discute a autoria e tensiona o domínio público da hashtag, funcionando como imagem múltipla e descentralizada.
Um homem de boné atravessa a rua bem no instante da foto. Seu corpo bloqueia a imagem da faixa. Ao fundo da cena, vemos sinais de sua existência: duas pessoas segurando cada uma uma ponta; lemos o finalzinho -to. Com certeza, #essemomento estava ali, depois do homem congelado, que quando atravessava bem o meio da rua, foi capturado por Baigur. Do conjunto da série, essa imagem mimetiza a ruptura do fluxo temporal (e espacial) instaurado pela fotografia: #essemomento faz a rua parar, o corpo do homem de boné congelar – e o sinal está vermelho, inclusive. Na outra margem do projeto, alguém entrou no mar e suspendeu a faixa sobre sua cabeça. O rastro de um corpo, do nosso corpo flutuando no mar, afirmado na existência de #essemomento suspenso. Ali, onde o vai-e-vem das ondas não cessa jamais, fixamos o embate entre o fluxo do tempo e o tempo de vida das imagens nas redes sociais e para além delas.
Que Maria continue o jogo!
Texto de Natália Quinderé
Artista Maria Baigur
Título #essemomento
Ano 2022
Técnica Fotografia
Dimensões Variadas
Fonte da imagem mariabaigur.com
Figura 1 – #essemomento – Atravessar, 2022, Fotografia, 40 x 60 cm
Figura 2 – #essemomento – Cuidar, 2022, Fotografia, 60 x 40 cm
Figura 3 – #essemomento – Interromper, 2022, Fotografia, 40 x 60 cm
Figura 4 – #essemomento – Desconhecido (autoria desconhecida), 2022, 40 x 60 cm
Figura 5 – #essemomento – Entregar, 2022, Fotografia, 62 x 100 cm
Figura 6 – #essemomento – Separar, 2022, Fotografia, Díptico, 35 x 42,7 cm cada
Figura 7 – #essemomento – Sentir, 2022, Fotografia, 60 x 40 cm
Figura 8 – #essemomento – Deslocar, 2022, Fotografia, 40 x 60 cm
Figura 9 – #essemomento – Degeneradas, 2022, Fotografia, 60 x 40 cm
Figura 10 – #essemomento – Partir (Autoria: Rafael Adorján), 2022, Fotografia, 60 x 40 cm