LABORATÓRIO DE CRÍTICA E HISTORIOGRAFIA FEMINISTA DA ARTE: ENSAIOS
APRESENTAÇÃO Profa. Dra. Talita Trizoli
Pós-doutorado IEB-USP
Revista Arte ConTexto
REFLEXÃO EM ARTE
ISSN 2318-5538
V.7, Nº18, MAR., ANO 2023
ACESSO À CULTURA
Entre abril e maio de 2022, foi realizado de modo totalmente independente um Laboratório de Crítica e Historiografia Feminista da Arte, em que participaram artistas, pesquisadores, professores, tanto mulheres quanto homens CIS, interessados em ler textos icônicos para a área de arte e feminismo. Ao longo de oito encontros foram discutidos ensaios, artigos, textos curatoriais e entrevistas de teóricas e teóricos feministas, ligados ao campo da história e da crítica de arte, desde a inaugural Linda Nochlin, passando por Pollock, Giunta, Simioni, Nelly Richard, Xabier Arakistain entre outras e outros. Muitos desses textos seguem ainda sem uma versão adequada em língua portuguesa, o que revela um sintoma da ineficiência da classe editorial local que já se arrasta por anos a fio, apesar do crescente interesse de uma nova geração de jovens mulheres comprometidas com as pautas políticas dos feminismos.
Partindo dessa massificação de interesse pelas questões feministas no país a partir de 2015, esse laboratório funcionou como um lugar virtual de possível encontro de interesses para pesquisadores e artistas sem proximidade e/ou aprofundamento acadêmico com a discussão, mas também como fórum de explanação de dúvidas e troca de referências. Como resultado dessas discussões, foi proposta a elaboração de ensaios curtos, textuais ou visuais que de algum modo materializassem as conversas realizadas ao longo dos dois meses – e que foi acolhida pela Arte ConTexto, no formato de um Dossiê especial.
Sendo assim, nesse conjunto singelo de divulgação de esboços e intenções, há de antemão o contraste entre a produção visual de Kauam Pereira e a de Carolina Kasting, sendo o primeiro um jovem artista de Sergipe, LGBTQ e racializado, e a segunda uma multiartista sulista, branca e mãe. São duas linguagens e trajetórias díspares que se cruzam aqui para pensar modos de torcer ou ascender os signos da feminilidade, seja pelas formas mobilizadas, no caso de Kasting, que toma seu próprio corpo como referencial de estudos, seja pelas técnicas e materiais diversos de Kauam, pertencentes ao universo afetivo doméstico, mas atravessado por afetos e desejos homoafetivos. Ambos se aproximam pela articulação de uma eroticidade temática e matérica.
O primeiro ponto de convergência da produção desses dois artistas com os ensaios escritos pode ser relecionado com o artigo da mestranda Camila Nader, interessada em discutir o caráter escultórico-têxtil, mas também autobiográfico e traumático da polonesa Magdalena Abakanowicz, figura ainda pouco cotejada em nosso circuito, levando-se em consideração não apenas o contexto de guerra e de refugiada da artista, mas a perspectiva feminista que emerge dessa produção.
Já Camila de Oliveira Savoi discorre sobre a trajetória da artista brasileira do início do século XX, Georgina Moura Andrade de Albuquerque, principalmente no que tange à invisibilidade da mesma no cânone artístico brasileiro, apesar de seu renome durante seu período de atuação. Em diálogo com a crítica de arte Lea Vergine e a socióloga Ana Paula Cavalcanti Simioni, Savoi procura compreender os critérios de exclusão artística na narrativa oficial da arte brasileira, assim como sua condição de “sombra” de seu marido, também pintor, Lucílio de Albuquerque.
Por fim, há o ensaio da dupla Cristiane Silva Novais e Ludmilla Britto, respectivamente mestranda e orientadora na EBA-UFBA, as quais optaram por reflexionar sobre a especificidade da circulação de corpos femininos pela urbe, a partir da análise de coletivos feministas de mulheres artistas. As autoras escolheram como foco o grupo Deixa Ela em Paz, de João Pessoa, que faz uso de cartazes e lambe-lambes para discutir não apenas o assédio e o direito feminino de circulação, mas também o elemento aglutinador dessas experiências: o medo.
Ainda que breve, a produção aqui apresentada pelas integrantes do Laboratório de Crítica e Historiografia Feminista da Arte demonstra não apenas o ainda vívido interesse pela temática dos feminismos nas artes, mas a possibilidade de uma produção intelectual não acoplada institucionalmente, visto a crise sem precedentes que vivenciamos na educação nos últimos anos.
Como responsável pelo Laboratório, só tenho a agradecer o comprometimento das participantes e a generosidade da revista em publicar esses textos.
LABORATÓRIO DE CRÍTICA E HISTORIOGRAFIA FEMINISTA DA ARTE: ENSAIOS
APRESENTAÇÃO Profa. Dra. Talita Trizoli
Pós-doutorado IEB-USP
Revista Arte ConTexto
REFLEXÃO EM ARTE
ISSN 2318-5538
V.7, Nº18, MAR., ANO 2023
ACESSO À CULTURA
Entre abril e maio de 2022, foi realizado de modo totalmente independente um Laboratório de Crítica e Historiografia Feminista da Arte, em que participaram artistas, pesquisadores, professores, tanto mulheres quanto homens CIS, interessados em ler textos icônicos para a área de arte e feminismo. Ao longo de oito encontros foram discutidos ensaios, artigos, textos curatoriais e entrevistas de teóricas e teóricos feministas, ligados ao campo da história e da crítica de arte, desde a inaugural Linda Nochlin, passando por Pollock, Giunta, Simioni, Nelly Richard, Xabier Arakistain entre outras e outros. Muitos desses textos seguem ainda sem uma versão adequada em língua portuguesa, o que revela um sintoma da ineficiência da classe editorial local que já se arrasta por anos a fio, apesar do crescente interesse de uma nova geração de jovens mulheres comprometidas com as pautas políticas dos feminismos.
Partindo dessa massificação de interesse pelas questões feministas no país a partir de 2015, esse laboratório funcionou como um lugar virtual de possível encontro de interesses para pesquisadores e artistas sem proximidade e/ou aprofundamento acadêmico com a discussão, mas também como fórum de explanação de dúvidas e troca de referências. Como resultado dessas discussões, foi proposta a elaboração de ensaios curtos, textuais ou visuais que de algum modo materializassem as conversas realizadas ao longo dos dois meses – e que foi acolhida pela Arte ConTexto, no formato de um Dossiê especial.
Sendo assim, nesse conjunto singelo de divulgação de esboços e intenções, há de antemão o contraste entre a produção visual de Kauam Pereira e a de Carolina Kasting, sendo o primeiro um jovem artista de Sergipe, LGBTQ e racializado, e a segunda uma multiartista sulista, branca e mãe. São duas linguagens e trajetórias díspares que se cruzam aqui para pensar modos de torcer ou ascender os signos da feminilidade, seja pelas formas mobilizadas, no caso de Kasting, que toma seu próprio corpo como referencial de estudos, seja pelas técnicas e materiais diversos de Kauam, pertencentes ao universo afetivo doméstico, mas atravessado por afetos e desejos homoafetivos. Ambos se aproximam pela articulação de uma eroticidade temática e matérica.
O primeiro ponto de convergência da produção desses dois artistas com os ensaios escritos pode ser relecionado com o artigo da mestranda Camila Nader, interessada em discutir o caráter escultórico-têxtil, mas também autobiográfico e traumático da polonesa Magdalena Abakanowicz, figura ainda pouco cotejada em nosso circuito, levando-se em consideração não apenas o contexto de guerra e de refugiada da artista, mas a perspectiva feminista que emerge dessa produção.
Já Camila de Oliveira Savoi discorre sobre a trajetória da artista brasileira do início do século XX, Georgina Moura Andrade de Albuquerque, principalmente no que tange à invisibilidade da mesma no cânone artístico brasileiro, apesar de seu renome durante seu período de atuação. Em diálogo com a crítica de arte Lea Vergine e a socióloga Ana Paula Cavalcanti Simioni, Savoi procura compreender os critérios de exclusão artística na narrativa oficial da arte brasileira, assim como sua condição de “sombra” de seu marido, também pintor, Lucílio de Albuquerque.
Por fim, há o ensaio da dupla Cristiane Silva Novais e Ludmilla Britto, respectivamente mestranda e orientadora na EBA-UFBA, as quais optaram por reflexionar sobre a especificidade da circulação de corpos femininos pela urbe, a partir da análise de coletivos feministas de mulheres artistas. As autoras escolheram como foco o grupo Deixa Ela em Paz, de João Pessoa, que faz uso de cartazes e lambe-lambes para discutir não apenas o assédio e o direito feminino de circulação, mas também o elemento aglutinador dessas experiências: o medo.
Ainda que breve, a produção aqui apresentada pelas integrantes do Laboratório de Crítica e Historiografia Feminista da Arte demonstra não apenas o ainda vívido interesse pela temática dos feminismos nas artes, mas a possibilidade de uma produção intelectual não acoplada institucionalmente, visto a crise sem precedentes que vivenciamos na educação nos últimos anos.
Como responsável pelo Laboratório, só tenho a agradecer o comprometimento das participantes e a generosidade da revista em publicar esses textos.