Meu nome completo é Renata Azevedo Requião. Nasci em Pelotas, RS, em 1960, e vivo na praia do Laranjal desde 2001. Aqui, venho construindo minha ]cas’arvore[, localizada entre um pau-ferro e uma quaresmeira, no meio de minha pequena floresta — a vida parece ganhar mais sentido se descobrimos qual é nosso lugar. Minha ]cas’arvore[ é uma pequena edificação, que lembra as casinhas de secagem de fumo (talvez um silo). Foi construída seguindo “princípios pássaros”: a partir do esforço de meu próprio corpo, recolhendo coisas-objetos. A um só tempo afetivo e patrimonial, é um lugar entre “civil e vegetal” (mais que inscrito entre “cultura e natureza”), onde busco ter “experiências capazes de me garantir abrigo”. Na ]cas’arvore[, estudo, leio, penso, anoto, invento conversas fraternas e fugazes em torno de questões relevantes para a construção de uma “vida civil” (como insisto em chamar a vida em comum, a vida realmente vivida entre os homens); ali, continuo a escrever poemas e pequenos contos poéticos (prática cuja origem, imemorial, desconheço em mim); em folhas A4 soltas, e em cadernos sem linhas, preparo por escrito minhas aulas, antecipando em casa a experiência coletiva da “conversalhada a cuspe e giz”, registrada no quadro negro. Também projeto “objetos-ambientes com luz e som”, a partir, marcadamente, de minha experiência como leitora de textos literários. No mais das vezes, construo esses “objetos-ambientes” com amigos, resultado de longas, intermitentes e fraternas conversas (nesses “objetos-ambientes”, versão caseira do “falanstério fraternal” de Roland Barthes, estamos sempre estimulados pelo desejo da tal “vida civil”).
De tudo um pouco, mirabilia cotidiana, faço esboços e anotações, em pequenas cadernetas, nas quais, tarefas cotidianas (listas dos “quefazeres”, feira e supermercado, tarefas familiares, cuidados comezinhos) misturam leituras, “inlights” e referências a “pensamentos visuais”. É nas cadernetas que registro a movimentação [o “tudo o que se passa”] na “linha do horizonte”, e aos elementos de meu “teatro de sombras” — dadas pela Lagoa dos Patos, são duas estruturas frontais e geométricas, superfícies de leitura, organizadas, que me oferecem “certo enquadramento para lidar com a realidade”. Publico pouco, gasto longas horas orientando meus alunos, conversando com alguns amigos, e, em silêncio, no jardim. Gostaria de assinar alguns de meus trabalhos como Pilar Azevedo.
APÊNDICE A multitelas mesa do porco preparada para portfólio artecontexto, 2017