Ingredientes:
fome (é natural)
afeto (é crucial)
estar com o outro (é experimental e engrandecedor)
corpo na arte (está na pele)
desejo (diria sexo, mas é amor também)
criação (de extrapolar)
arte no espaço (está para além dos muros)
participação ativa (igualdade no desenvolvimento da criação)
abertura (escuta, verbalizações, silêncios e respeito)
Quantidades:
Um punhado, um bocado, de montão, a conta gotas, de passo em passo, aos borbotões.
Porção/rendimento:
Não é possível calcular exatamente o rendimento da receita. Quando este prato tem contato com o mundo, a sua propriedade de multiplicação descontrolada começa a atuar. Pode-se dizer que o prato tem o mesmo alcance do abraço. Não duvide das possibilidades e permita-se experimentar.
Antes de mais nada:
Escolha um local para o encontro. Feito isso, os olhares e trocas se darão. Neste ponto, muitas xícaras de abertura serão necessárias. Reflexões e punhados de distintas referências artísticas que abordam a arte no espaço e na relação com o outro são importantes. Mexa-se sempre para não desandar. Podem sair faíscas, mas faz parte...
* Segredinho: deixe a porta sempre aberta, pois pode aparecer mais alguém.
Como fazer junto a massa
Passo a passo: (os eventos, as bases, o concreto)
A massa é iniciada e pensada a partir de questionamentos sobre as proximidades entre a arte e a educação. Reúna pessoas com distintas vivências pessoais sobre arte e o seu fazer. Acrescente leitura e interpretação de textos e imagens. Troque referências e reflexões sobre produções artísticas. Nesta receita, propõem-se Doris Salcedo, Coletivo Poro, Yves Klein, Cildo Meireles, Walter De Maria, John Ahearn e Rigoberto Torres, Christo e Jeanne-Claude, entre outros.
Opiniões diversas podem surgir. Fome e afeto são acrescentados constantemente a gosto de cada um. No preparo da massa, é importante que haja liberdade e respeito mútuos e a percepção de que todos são colaboradores e agentes do processo. Esses ingredientes são fundamentais para dar a liga. Outro elemento indispensável é a horizontalidade das relações, construída através da escuta, do diálogo incentivado e aberto.
* Segredinho: com o tempo de fermentação, consolida-se o trabalho coletivo.
Como fazer junto o recheio
Passo a passo: (o fazer, a pesquisa, as referências, técnicas)
Para fazer o recheio coletivamente é preciso ter fome em suas diversas concepções e estar em permanente revisão das receitas tradicionais. É fundamental pensar as relações entre o individual e o coletivo. São necessários alguns utensílios: telas, tintas serigráficas, rodos, papéis, rolos, fôrmas, mãos, canetas com tinta comestível e/ou anilina. É indispensável o consenso sobre a forma, cores e temas, além da participação de todos.
Os sabores são escolhidos a partir das reflexões sobre a reforma do Ensino Médio, inspiradas no texto “Gaiolas e Asas” do Rubem Alves. Os sabores podem ser também oriundos de observações sobre o espaço em que vivemos. Use palavras, pássaros e cores. Caso queira mais colorido, a mescla de cores é a gosto do freguês.
* Segredinho: faz parte do preparo lidar com a frustração. Caso isso aconteça, é necessário ajustar o tempo e modificar os ingredientes.
Como fazer junto a cobertura
Passo a passo: (consolidação, prática, como foi a experiência)
A receita vai crescendo e, quando isso acontece, os sentidos são aguçados! Vai-se para a rua. Diferentes participantes (cozinheiros, provadores, comedores) interagem, adentrando a oficina/cozinha. Despertam-se novos cheiros e diferentes sabores, o que só enriquece a mediação! E essa nutrição estética vai além das tradicionais obras de arte! Ampliamos nossos horizontes, pois aqui o fazer e o criar são bem aceitos! Tem-se um vasto cardápio: palestras, performances, ocupação de muros de escola, ou ações na porta de hospitais, para levar um bocado de doces a transeuntes famintos de intervenções.
* Segredinho: siga o fluxo das ideias!
Tempo de preparo:
São 14 encontros com a participação de 15 pessoas, de setembro a dezembro, fazendo chuva ou sol. Isso pode mudar e pode-se fazer novamente o “biscoitinho do nosso jeito”, seja ele de performances doces, apimentadas ou mais politizadas. Para falar a verdade, pode ter um quê de segredos da vovó, e (lembre-se!) todo bom prato deve sempre contar com as ofertas sazonais. Esteja sempre atento ao que o mundo oferece a você nas distintas ocasiões!
Variações da receita:
Você pode mudar a receita de modo que todos se sintam inclusos, afinal a diferença de cada um é fundamental para o sabor do coletivo. Portanto, sinta-se à vontade, reúna pessoas, reflita sobre o mundo com arte, busque referências teóricas (várias) e, principalmente, novos sabores, experiências, rumores e linguagens!