O mercado de compra e venda de obras de arte em Porto Alegre durante as décadas de 1990 e 2000 manteve-se em baixa. Nos últimos anos parece surgir uma luz no final do túnel com diversas iniciativas emergindo pela cidade. Porém, se as premissas de Michel Hoog (1995) estiverem corretas, que para existir um mercado de arte são necessárias três circunstâncias encontrarem-se reunidas em uma determinada sociedade. A primeira que o objeto de arte tenha uma função além de utilitária ou de culto religioso. Seguido de um forte lastro educacional aliada a um consistente poder econômico. E a partir destas premissas observarmos o caso regional, no qual a nossa educação vem caindo no Ranking de avaliação do MEC na última década. Nossos professores estaduais contam com um dos menores pisos salariais da categoria em comparação a outros Estados. A economia gaúcha apesar de ainda ser a 4º maior do Brasil, não acompanha o crescimento de outras regiões. Aliado a isto o governo estadual está profundamente endividado. Logo, os pilares básicos para o crescimento do mercado de arte que são educação de qualidade e crescimento econômico tendem a entrar em uma curva de declínio no Estado do Rio Grande do Sul. Consequentemente nos conduz a projetar no futuro uma situação pior que a atual. Ao menos no setor de compra e venda de trabalhos artísticos em um sentido tradicional. Por outro lado, durante as décadas de 1990 e 2000 presenciamos um forte crescimento de espaços institucionais públicos e privados em nossa cidade.
Neste cenário fantástico, assustador e por vezes desanimador para os artistas locais torna-se necessário haver outras iniciativas do que as chamadas “tradicionais’ no campo mercadológico. Frente a esta necessidade de novas plataformas de promoção e geração de mercado a VendoARTE surgiu em 2012 enquanto uma iniciativa proposta por Márcia Braga, Janaina Spode e Gilberto Menegaz. Conta como colaboradores: Alcir Saraiva, Graziela Gasparovic, Maria Eunice de Araújo e Blanca Brites. Parte de uma plataforma virtual de vendas, para inúmeras iniciativas no campo cultural. Como o Projeto Vizinhança, Ateliê Aberto, Projeto Aproximação entre outros. Buscando variadas formas de inserção e construção mercadológica. Para deste modo a longo prazo, sustentar-se economicamente e criar uma ponte entre produtores e novos consumidores.
Atualmente entorno de 50 artistas participam da galeria, e atuam com as mais variadas linguagens, suportes, entendimentos sobre a arte. Seu quadro oscila entre jovens, a artistas reconhecidos e com longas trajetórias. Mas são em suas proposições que encontramos um diferencial em relação às demais galerias de Porto Alegre. Diferentemente de outras que possuem espaço físico, esta se faz presente via seus projetos que buscam aproximar artistas e a arte de diversos segmentos de público. Como por exemplo: o Projeto Ateliê Aberto, no qual os ateliês e estúdios da cidade abrem suas portas para a visitação. Ainda destaco o Projeto Vizinhança em que os artistas interferem em casas, muros, grades e outros espaços pela cidade. Além de realizarem oficinas nestes lugares, ruas, e bairros. No qual a arte e os artistas tornam-se vizinhos por um determinado momento. Deste modo a VendoARTE atua enquanto um agente cultural e gradativamente vem tecendo uma rede entre, artistas, a cidade e seus moradores. Constituindo um espaço simbólico semeador de cultura, educação e arte. E deste modo fomenta e constrói mercados.
A VendoARTE é nosso Mágico de Oz, frente aos diversos desafios do campo artístico de Porto Alegre e suas variadas bruxas do mal. Porém, o nosso Mágico de Oz não é um impostor, mas sua fonte de poder não é própria dele, depende de nossa crença. De todos os envolvidos em acreditar na magia e transformar os sonhos em fatos. A verdade não é um fato, é uma crença. E a crença gera fatos.
Tudo isto é muito recente e nos provoca muitas perguntas. Será que nosso Mágico de Oz terá fôlego e persistência suficiente para vencer as intempéries do campo local, e fazer com que seu balão chegue ao ponto de seus desejos? A crença dos variados agentes da arte será o suficiente para manter a magia de nosso Mágico de Oz? Ou morreremos na forca, como modo de punição, acusados por não acreditar?