As politicas públicas para as artes visuais em, praticamente, todos os lugares sofrem com mudanças de gestão e falta de uma iniciativa consistente para a cultura. Podemos observar isso de maneira nacional, havendo apenas variação de escalada em alguns lugares. Em meio a estes contextos surgem os espaços independentes.
Existem várias formas de autogestão e são diversos os motivos para a sua existência. Em São Paulo, por exemplo, cidade que tem um circuito muito bem estruturado, as iniciativas independentes surgem em oposição aos modelos existentes numa tentativa de quebrar o engessamento institucional e do mercado.
Já em lugares sem um circuito de arte instituído, como Fortaleza, as iniciativas independentes surgem como possibilidade de ser um lugar que supri de maneira experimental uma carência na cidade, tornando-se espaços de construções simbólicas. A capital cearense perdeu a pouco tempo um de seus espaços mais importantes, o Alpendre – casa de arte, que contribuiu de maneira independente com a produção artística local.
Porém, surgiram outros espaços, não como uma forma de substituição do Alpendre, mas com outros modelos de atuação. Alguns com foco exclusivo nas artes visuais e outros de maneira interdisciplinar, são: Dança no andar de cima, Salão das Ilusões, Galeria Linha Laranja, Espaço Casa, Artelaria, Revista Avoante e a Revista Reticências. Esta última, faço parte de seu corpo editorial.
O campo de trabalho dessas iniciativas volta-se para a proposição de espaços expositivos, residências, formação, publicações, grupo de pesquisa, ateliê coletivo, debates, mostras de vídeos, comercialização de obras e produtos culturais, festas... Mas, o que diferencia essas práticas no campo independente das instituições? O caráter de experimentação de tais iniciativas e a falta de obrigação institucional possibilita exercício do pensamento curatorial e artístico de maneira livre, algo mais próximo da definição de arte, feita pelo crítico Mário Pedrosa, da arte como um exercício experimental de liberdade.
Com relação a minha atuação como editor de uma publicação, pensamos essa prática de maneira horizontal, ou seja, pensar arte, crítica de arte e público no mesmo patamar. Servindo como espaço de reflexão sobre arte contemporânea e também de experimentação sobre o pensamento crítico.
Atualmente, o Dança no andar de cima está em reforma, que aconteceu devido ao apoio por meio de doação de obras de artistas parceiros, realizando melhorias no lugar de maneira colaborativa. Além de espaço expositivo, o “Dança”, como é conhecido, funciona como meio de debates, lançamentos, ateliê e local de trabalhos de artistas e designers, espaço gastronômico, oficinas, residências e festas. Assim, ao longo de sua existência, vem contribuindo para a experimentação em arte na cidade. O grupo de artistas que fazem a gestão do lugar é formado por um grupo interdisciplinar.
Diferentemente do período de negação das instituições de arte por parte dos artistas, as iniciativas independentes na atualidade atuam de maneira muito tranquila e sem culpa em parceria com instituições em ações e / ou projetos pontuais, e nem por isso perdem a sua independência. Alguns consideram que para desestabilizar a estrutura que não é a ideal, é preciso estar dentro, talvez por isso, vários gestores autônomos não veem problema nesse relacionamento com o aparato institucional.
Para finalizar os apontamentos, faço algumas provocações: Como pensar em autonomia onde as iniciativas se tornam dependentes de apoio institucional, seja através de edital, apoio direto ou parcerias com instituições, inclusive, as internacionais?
Não seria função destes espaços desenvolverem novas formas de uma existência sustentável, para de fato se tonarem autônomos? Com a chegada da economia criativa, o governo almeja a autonomia econômica das atividades culturais. Mas, como a arte contemporânea, que passa pelo esvaziamento de público, conseguirá conquistar esse desafio. Será essa autonomia possível em todas as esferas artísticas?
Acredito que seja papel do governo servir de subsídio a ações que não se encaixam no mercado. Espero que possa existir, cada vez mais fortes, formas colaborativas para se manter a autonomia e a periodicidade de programações dos espaços independentes, sem ter no seu sustento apenas a venda de cerveja, mas de criar novos modelos de gestão e de sociedade.