Exposta na galeria Xico Stockinger do Museu de Arte Contemporânea do RS, a exposição Espaço Iluminado de uma intensa realidade, da artista paulistana Adriana Conti Melo, durante o período de 9 de julho até 11 de agosto de 2013, tinha como referência os poemas de Mário Quintana. As 13 telas exibidas pintadas a acrílico, são representativas da sua produção atual, onde a artista nos coloca a observarmos espaços feitos de linha, cores e planos; que ao primeiro olhar do espectador podem trazer estranhamento devido ao seu trabalho com a perspectiva (ou a negação desta) e às cores contrastantes utilizadas na construção do quadro.
A artista, que possui formação em arquitetura, traz em seus trabalhos mais antigos um olhar pelo interior dos espaços domésticos. Neles são representados objetos banais, que não notamos e nem damos importância, por representarem uma vida do cotidiano, íntima e muito ligada aos afazeres domésticos, como: baldes, vassouras, mangueiras, aspirador de pó, cadeiras. Porém, nesta série mais recente, Adriana Conti Melo expande seu olhar para salas e ambientes onde circulamos, vivenciamos, não se limitando mais aos pertences que nos circundam. À primeira vista, podemos perceber esses ambientes em seus quadros, porém, ao unirmos corredores, portas e janelas pintados pela artista, percebemos que este espaço que nos é apresentado não faz nenhum sentido, tanto em relação à perspectiva, como em relação às cores e os planos.
Nesse instante de dúvida está o desenvolvimento da poética da artista: não apenas em pintar e representar espaços tridimensionais onde a nossa vida se desenvolve, mas na proposição de confundir o espectador e dar a ele o papel de unir e construir um sentido nas cores, linhas, portas, janelas, paredes. Observar essa construção de seus planos, que não seguem a regra de uma perspectiva “correta”, tendo como resultado ambientes que nos parecem ilusórios e irreais; entretanto, nos coloca dentro daquele lugar, como se pudéssemos caminhar e perambular por aqueles corredores e modificá-los. Portas que não são portas, escadas que não levam a nenhum lugar; é o espectador que cria e une essas “formas” coloridas e contrastantes para construir o seu ambiente.
O jogo de perspectivas que cada quadro apresenta é resultado do processo de realização da obra, pois Adriana inicia pintando toda a tela de preto e é só que acrescenta campos de cores aleatórios, sem nenhum esboço prévio. A partir dessas manchas de cores, ela vai criando as formas e os espaços. A artista costuma trabalhar em mais de uma tela por vez, para justamente dar o tempo de observar e refletir sobre as próximas interferências nas telas, sem se preocupar com a perspectiva, resultando, como indica Katia Canton, curadora da exposição, “num singular labirinto, numa beleza que também é repleta de estranhamento”.
Estranhamento que nos lembra, de certo modo, as obras metafisicas do séc. XX, que também nos mostram espaços vazios, como se estivessem à parte do tempo; porém, as obras de Adriana atraem nosso olhar para dentro do quadro, a partir de sua perspectiva e de suas cores vibrantes, nos transformando em visitantes a desvendar seus espaços fantasiosos. O ato de imaginar para onde aquelas formas podem nos levar, assim como se encontrar com seus diversos corredores e ambientes, nos leva a querer desvendar o que é ou poderia ser aquele lugar.