Introdução

O trabalho fotográfico Impermanências objetiva lançar um novo olhar sobre construções em ruínas, fazendo uso, para isso, da arte da dança e da fotografia. Sendo assim, fotografei bailarinas em locações em estado de abandono na cidade de Porto Alegre, de forma que seus corpos interagissem com o ambiente. Os lugares fotografados se conectam devido ao fato de terem perdido sua função original e de estarem em degradação aparente. Esses lugares são a memória do passado, e a fotografia materializa essa memória, como diz Elane Abreu de Oliveira: “Tanto a percepção como a imagem só existem como instantes frágeis. Uma vez materializada, a fotografia funciona como ‘equivalente físico e mental’ da memória.” (OLIVEIRA, 2010, p.114).

 Figura 1 – Marielen Baldissera, Impermanências, 2012, fotografia digital, 75x50cm. Fonte: Acervo pessoal.

A delicadeza do ballet, suas formas e movimentos parecem ter sido feitos para a fotografia. Já os lugares abandonados me chamam e sempre chamaram a atenção, ainda mais se deslocados em meio à cidade, dividindo o espaço com prédios modernos. Eles remetem à memória, à passagem do tempo e às transformações daí advindas. A cidade é história viva. Segundo Paul Ricoeur:

É na escala do urbanismo que melhor se percebe o trabalho do tempo no espaço. Uma cidade confronta no mesmo espaço épocas diferentes, oferecendo ao olhar uma história sedimentada dos gestos e das formas culturais. A cidade se dá ao mesmo tempo a ver e a ler. (RICOEUR, 2007, p.159).

Essas construções, que se encontram degradadas e descuidadas, fazem um contraponto à delicadeza e à leveza das bailarinas. Parecem ser dois assuntos opostos, mas que, através dos contrastes, podem se unir esteticamente. O corpo da bailarina se movimenta por meio de passos e saltos; o corpo da arquitetura, apesar de inerte, tem o movimento do tempo que age sobre suas estruturas.

 Figura 2 – Marielen Baldissera, Impermanências, 2012, fotografia digital, 75x50cm. Fonte: Acervo pessoal.

Representação do movimento – o borrão como estética proposital

Para fazer a relação da fotografia com a ruína e com a passagem do tempo, dançarinas foram fotografadas nesses lugares abandonados executando movimentos de dança. As fotografias foram encenadas e dirigidas em um trabalho de criação que se deu em conjunto com as dançarinas, levando em consideração o espaço e o corpo. Não foi executada uma coreografia, mas sim movimentos isolados, passos de dança repetidos até chegar ao resultado desejado. Cada lugar é diferente, cada ruína estava em uma situação e exigiu movimentos diferentes dos bailarinos. Esses passos só puderam ser descobertos na hora da fotografia, em contato com o lugar, é um processo de descoberta e de erros e acertos. Como o objetivo era mostrar o movimento dançado por meio da fotografia, a técnica que optei por utilizar foi a de grande tempo de exposição, em que a sequência da dança aparece como um “borrão”, tendo apenas alguns momentos mais definidos, para mostrar os movimentos intermediários, mas que não chegam a ficar totalmente congelados. Essas etapas, sobrepostas, representam a passagem do tempo, assim como as marcas nas paredes das ruínas representam a impermanência da vida e sua fugacidade.

Apesar de toda a história da fotografia de dança ter se encaminhado para abolir o borrão e conseguir fotos estáticas dos movimentos, essa foi a maneira que escolhi para representar o movimento das bailarinas. É necessário dominar várias técnicas, e ter a possibilidade disso, para depois subverter o que se considerava certo e voltar ao princípio, adotar o borrão como estética e não como erro. O modo mais utilizado em fotografias de dança sempre foi o do congelamento, com velocidades rápidas; a fotografia instantânea do movimento é um método bem aceito, como fala Ronaldo Entler:

O instantâneo se desenvolveu dentro de uma linguagem própria: admiramos um movimento congelado porque ele nos permite ver em detalhes a posição do sujeito, sua anatomia, sua relação com outros objetos e com o espaço, mas também porque faz tudo isso sem destruir o sentido do movimento. (ENTLER, 2007, p. 37).

 Figura 3 – Marielen Baldissera, Impermanências, 2012, fotografia digital, 75x50cm. Fonte: Acervo pessoal.

O motivo da escolha do borrão como método de representação da passagem do tempo é o mesmo da escolha das ruínas como cenário. O tempo está intimamente ligado à dança, há sempre uma contagem definida para guiar os bailarinos, mesmo nos estilos contemporâneos. O ritmo, a marcação, a sincronia, tudo depende da relação com o tempo, até se achar o tempo “certo”. Esse tempo da dança é divido e contado, ou pode ser constante. O que vemos ao assistir uma apresentação de dança normalmente não nos remete às horas de ensaio que os bailarinos tiveram para conseguir chegar àquele resultado, e nem pensamos na dança decomposta, como foi criada, vemos o todo. Nessas fotografias fiz uma decomposição da dança, para recompô-la em forma bidimensional, e dessa maneira, dar visibilidade ao “tempo da dança”, aos movimentos intermediários que compõe um todo. Coisas que não vemos ao assistir os movimentos dançados. Com a fotografia, no entanto, é possível explorar esse novo modo de ver, como cita André Rouille: “Se, quantitativamente, a fotografia faz ver mais, ela permite, sobretudo enxergar coisas diferentes daquelas oferecidas pelo desenho: produz novas visibilidades, abre as coisas, extrai daí evidências inusitadas.” (ROUILLE, 2009, p. 40) Através desse método da longa exposição, do borrado, dos fantasmas, novas evidências são trazidas à tona e um modo diferente do real é colocado em imagens.

 Figura 4 – Marielen Baldissera, Impermanências, 2012, fotografia digital, 75x50cm. Fonte: Acervo pessoal.

Dança – relação do corpo em movimento com o espaço e o tempo

A relação do dançarino com o espaço é muito importante em minhas fotografias porque o espaço não está ali como um mero cenário, ele tem algo a dizer que vem ao encontro do movimento dançado. Além disso, a relação com o espaço está sempre presente na vida de quem trabalha com a dança. Ao dançar, a percepção do próprio corpo é diferenciada, assim como é a do seu entorno. José Gil, filósofo português, discorre sobre como o bailarino lida com o espaço: “Sabe-se que o bailarino evolui num espaço próprio, diferente do espaço objetivo. Não se desloca no espaço, segrega, cria o espaço para com o seu movimento.” (GIL, 2001, p. 57) Como o fotógrafo, que observa com detalhes o espaço ao seu redor para pensar sua fotografia, o dançarino faz o mesmo. Pina Bausch, famosa coreógrafa e dançarina alemã, utilizou muito a questão do espaço nas suas criações, muito da cidade e da relação das pessoas com o lugar onde vivem. Pina é uma grande inspiração, pois trata a dança de uma forma bastante emocional e intensa.

Assim como Pina, levo meus personagens a viver a cidade de uma forma diferente e a se aproximar do lugar onde vivem. Ver o antigo com novos olhos. Ao deslocar as bailarinas para o exterior da sala de aula, longe de seus espelhos e barras, para um espaço fora do comum e inusitado onde elas não estão acostumadas a executar passos de dança, novas percepções são criadas. É necessário pensar de um modo diferente para saber como o corpo vai agir, adequando isso ao resultado que desejo obter na fotografia. Primeiramente, um reconhecimento dos limites deve ser feito, como fala Klauss Vianna, dançarino e professor de dança:

Ao dividirmos os espaços nos localizamos dentro deles. Estabelecemos seus limites, tão importantes para o surgimento de uma verdadeira ação. Mas essa ação depende dos limites em que atuamos: o gesto, o som da voz, a intenção serão limitados pelas paredes, pelo teto e pelo chão em que essa ação se passa. (VIANNA, 2008, p.94).

Com esse deslocamento, busquei a valorização dos espaços esquecidos, deixados de lado, abandonados pela sociedade. Gaston Bachelard fala sobre a poética dos espaços, e como nos relacionamos com os lugares vazios, nesse caso entendo esses lugares vazios como sendo os lugares abandonados. “A função de habitar faz a ligação entre o cheio e o vazio. Um ser vivo preenche um refúgio vazio. E as imagens habitam. Todos os cantos são frequentados, se não habitados.” (BACHELARD, 1993, p. 149). A partir dessa premissa de que um ser vivo preenche um refúgio vazio, busquei preencher o lugar abandonado com a vida da bailarina e de seu movimento.

A percepção do lugar e dos movimentos que serão executados também depende muito do fato de o espaço ser fechado ou aberto. Espaços abertos dão maior impressão de liberdade e incitam grandes movimentos, os lugares fechados nos limitam mais. “Ao caminhar por um espaço fechado, ao ter consciência dele, limito meus espaços internos para que minha energia seja conduzida e utilizada só na extensão da sua necessidade: o gesto não precisa ser necessariamente grande nem o desgaste maior que o necessário.” (VIANNA, 2008, p. 96). A maioria das fotografias foi feita em lugares fechados, o que na verdade é um facilitador para o tipo de movimento necessário: não muito elaborado, movimentos com pequenos deslocamentos de espaço e também de tempo, para que suas diferentes etapas fiquem visíveis na fotografia.

Esses movimentos, apesar de discretos e simples, sem grandes exigências físicas para a bailarina, comunicam uma grandeza, especificamente a da dimensão do tempo. O conceito de infinito pode ser usado, como Gil o usou:

Eis o que parece decisivo: o gesto dançado abre no espaço a dimensão de infinito (...). Um infinito não significado, mas real, porque pertence ao movimento dançado. Valéry sentia-se impressionado pelo fato de o bailarino não dar atenção ao espaço circundante: sim, está consciente dele, mas os seus gestos introduzem nele o infinito. (GIL, 2001, p. 15).

A passagem do tempo é algo infinito, está sempre presente e sempre estará. Estamos acostumados a contar essa passagem em horas, em dia e noite, em horário de trabalho e horário de descanso. Mas com essas fotografias tomo uma parcela maior do tempo, o infinito, o impermanente. As modificações que as construções sofrem com essa passagem se dão por uma longa quantia de horas e dias. O movimento executado pela bailarina leva poucos segundos, mas seu traço inscrito na fotografia consegue fazer a representação de um longo espaço de tempo.

As edificações e também os corpos estão à mercê da passagem do tempo, vemos sua presença nas marcas nas paredes e na marcação do movimento de dança, que a cada tempo marcado e fotografado, já pertence ao passado. Tanto a construção quanto a bailarina são impermanentes.

 Figura 5 – Marielen Baldissera, Impermanências, 2012, fotografia digital, 75x50cm. Fonte: Acervo pessoal.

Relação entre ruínas arquitetônicas, tempo e memória

Ao caminhar pelas cidades nos deparamos com construções de diversas épocas, prédios antigos em meio a prédios sendo construídos. Algumas dessas construções se mostram bem conservadas e restauradas, outras, em estado de ruína. O que me chama a atenção nessas ruínas é o fato de delatarem a existência de um tempo anterior e nos possibilitarem entrar em contato com esse tempo, como uma espécie de arqueologia e descoberta de cidades fantasmas sem precisar sair do nosso lugar de vivência. Elas captam o olhar, remetendo a uma imaginação histórica que nos leva a pensar no passado. A ruína, a princípio, perdeu sua função primária, mas não é por isso que se torna algo inútil, como pondera Jean Baudrillard, ela traz consigo a função de significação e junto com isso o crescimento de seu valor estético.

[...] o objeto antigo, este, é puramente mitológico na sua referência ao passado. Não tem mais resultado prático, acha-se presente unicamente para significar. É inestrutural, nega a estrutura, é o ponto-limite de negação das funções primárias. Todavia não é nem afuncional nem simplesmente ‘decorativo’, tem uma função bem específica dentro do quadro do sistema: significa o tempo. (BAUDRILLARD, 2008, p. 82).

Muito do nosso patrimônio histórico será destruído em favor de outros empreendimentos. Para que essa história não se perca definitivamente, temos meios de conservar a memória, e um deles é a fotografia. Através da fotografia, o passado é revisitado, podemos saber como era uma cidade por suas fotografias antigas. Assim, a fotografia lida com o tempo de maneira parecida com a arquitetura: “O fragmento fotográfico prolonga, através da ação da imaginação, o acontecimento anterior e posterior de uma determinada ação. Esta particularidade faz da fotografia uma arte do tempo e do espaço, assim como a arquitetura.” (CIDADE, 2006, p.2).

Utilizei a fotografia para “salvar” a imagem de alguns lugares em ruínas, dando a eles um novo olhar, chamando atenção para as marcas da passagem do tempo. Beatriz R. Ferreira e Ana Luiza Carvalho da Rocha falam sobre a criação desse novo olhar para lugares abandonados:

A partir da criação de uma estética da urbis, volta-se à possibilidade de criação de novos olhares a estes locais marginalizados na paisagem, e aos aspectos que não tem uma função clara, por terem perdido seu uso social, reassumem outras possibilidades de criação de sentido. (FERREIRA, ROCHA, 2010, p. 223).

As fotografias foram feitas nos seguintes locais de Porto Alegre: Museu Júlio de Castilhos, com Laura Miguel e Augusta Diebold (Fig. 1 e 2), Ilha das Pedras Brancas, com Giulia Barão (Fig. 3 e 4), e no Hospital Psiquiátrico São Pedro com Fabiana Saikoski (Fig. 5 e 6). No museu, que se localiza na Rua Duque de Caxias, centro de Porto Alegre, fotografei tanto no pátio externo, onde ficam os canhões, quanto na parte interna, em uma sala temporariamente desativada devido à necessidade de restauro, usada como depósito. Agora essa sala já foi reformada e é utilizada para eventos e exposições. A ilha, também chamada de Ilha do Presídio, fica no lago Guaíba, entre a cidade de Guaíba e Porto Alegre. A ilha abriga as ruínas de uma penitenciária de segurança máxima dos anos 50. Antes disso, foi usada como laboratório para pesquisa da peste suína e também como depósito de pólvora. Durante a ditadura militar, o presídio abrigou presos políticos e nos anos de 1980 foi desativado devido a denúncias de torturas que aconteciam no local. Hoje o lugar está em ruínas, fotografei nos prédios onde ficavam as celas dos presidiários. Na época em que fotografei, não estavam acontecendo visitas turísticas no local, foi necessário alugar um barco com um pescador, que fez o transporte. Durante a 9ª Bienal do Mercosul, artistas foram convidados a fazer trabalhos sobre a ilha, e visitas foram realizadas, no projeto intitulado Encontros na Ilha. No Hospital Psiquiátrico São Pedro, utilizei as dependências que estão abandonadas, mas apenas as que consegui autorização para fotografar, pois algumas estão totalmente fechadas. Essas salas abandonadas ficam no prédio histórico do hospital onde antigamente ficavam os internos. Hoje funcionam ainda alguns departamentos administrativos no prédio, mas os pacientes ficam em outra edificação. O hospital foi inaugurado no ano de 1884, constituindo um grande avanço, pois antes disso as pessoas com problemas mentais eram confinadas em presídios. O lugar está realmente abandonado, sendo até perigoso caminhar em alguns pontos do prédio. O clima é muito pesado, a história está presente naquelas paredes, camas e instrumentos hospitalares, há muitos resquícios do que passou e ainda se passa por lá. Sabemos que os métodos para tratamento de pessoas com doenças mentais se confundiam com tortura. Na época em que foi construído o hospital, a região era um campo aberto, sem construções em volta, o que reforça a condição de isolamento e exclusão social.

Sabendo um pouco mais da história dos locais fotografados, é fácil perceber como ruína e fotografia estão ligadas com tempo e memória, o que torna ainda mais interessante o fato de fotografar esses locais. Além disso, outros conceitos as unem:

Destaquemos três motivos que ligam a fotografia à ruína: a presença/ausência do objeto (que é apontada quando a fotografia é tratada como rastro do real – a coisa está ali, mas ao mesmo tempo, não está), a incompletude (pois não temos uma totalidade presente, mas um pedaço, uma sobra do que já passou e persiste) e a morte/vida (pois estamos falando de uma aniquilação do tempo, mas também de sua persistência em parte). (OLIVEIRA, 2010, p. 93).

Em minhas fotografias de bailarinas executando movimentos nas ruínas, encontramos todas essas relações. A presença/ausência é mostrada no corpo da bailarina como um rastro, como um fantasma. Ela está ali dançando, mas ao mesmo tempo não está, sua presença esmaecida remete à ausência de vida, de pessoas que utilizem o local abandonado. Remete a uma presença do passado desse lugar, onde hoje só existe silêncio e abandono. A incompletude está na ruína por não termos sua construção de origem completa e também, novamente, no rastro da bailarina. Não vemos por inteiro seu corpo nem seu movimento de dança, ambos estão incompletos. Também o que está incompleto e gera curiosidade é a história do local, o que aconteceu ali em tempos passados? Quais são as histórias que essas paredes abrigaram? Essas questões me intrigam. E, finalmente, morte e vida. Morte no vazio da ruína, seu tempo de vida já passou. Vida no movimento da dança e no corpo humano, mas morte ao mesmo tempo, por sua aparência remeter a de um fantasma. Apesar de a temática sobrenatural não fazer parte das minhas intenções ao fotografar, o ar macabro é inevitável pelo imaginário coletivo que associa ruínas a fantasmas do passado. Ainda mais por alguns lugares escolhidos terem em seu histórico abrigado pessoas cujo único destino possível a partir dali seria a morte, como o presídio e o hospital psiquiátrico.

 Figura 6 – Marielen Baldissera, Impermanências, 2012, fotografia digital, 75x50cm. Fonte: Acervo pessoal.

Considerações finais

Ao pesquisar a história da fotografia de dança, ficou mais fácil criar em cima do que já havia sido criado. Fotografar o movimento (e, consequentemente, a passagem do tempo) era algo que intrigava os primeiros fotógrafos tanto quanto me intriga agora. Os recursos das câmeras foram sendo trabalhados, e o que antes era defeito, através da arte, pode ser usado propositalmente. Apesar de saber como a câmera vai se comportar, o resultado que surge após os segundos de exposição é sempre uma surpresa, o tempo e o movimento agem de forma diferente a cada clique. Essa diferença é algo recorrente na fotografia, até mesmo na instantânea. O que a lente vê é diferente do que o olho humano vê e é intrigante ter essa visão diferente do nosso alcance. É isso que me leva e leva outros amantes da fotografia a continuar fotografando: fotografar as coisas para ver como elas ficam fotografadas.

As ruínas entraram como um local de peso simbólico nas fotografias. Sua relação com o tempo e a memória está intrinsecamente ligada à passagem de tempo que mostro com os movimentos de dança. Através da arte e da criação de uma série fotográfica, o artista tem o poder de trazer a tona questões e conceitos que são do seu interesse particular e também da sociedade em geral. Creio que o estado em que se encontram os prédios históricos de nossa cidade é de interesse geral.

As fotografias resultantes exigem certo tempo de contemplação, não entregam o jogo de primeira, há alguns enigmas a serem decifrados. Sinto tudo isso materializado no trabalho finalizado. Essas fotografias sintetizam muitas coisas, com elas vem a história do lugar, a história da cidade, a história da bailarina, a história do momento e a história do trabalho. São muitas histórias, algumas irão se perder, outras já se perderam, mas, com essas fotografias, uma parte delas foi salva.

1  Este artigo é parte do Projeto de Pesquisa Friches Industriais Pelotenses, conhecer para preservar: O caso da Laneira Brasileira S.A., desenvolvido no Curso de Especialização em Artes da Universidade Federal de Pelotas.

2  FILHO, Rubens. Pelotas, The Dark City. 2009. Disponível em: www.amigosdepelotas.com/2009/01/pelotas-dark-city.html Acesso em: 14/04/2009.

3  Definição de patrimônio industrial de acordo com a Carta de Nizhny Tagil sobre o Patrimônio Industrial: O Patrimônio Industrial compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de processamento e de refinação, entrepostos e armazéns, centros de produção, transmissão e utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas e infraestruturas, assim como os locais onde se desenvolveram atividades sociais relacionadas com a indústria, tais como habitação, locais de culto ou de educação.

4  A Exploração Urbana é uma procura e descoberta do que geralmente não é visto. A excitação reside em explorar áreas proibidas onde poucas pessoas foram, ou espaços abandonados onde exploradores urbanos encontram relíquias industriais ou artefatos esquecidos como uma espécie de arqueologia.
Invisible Red: Exploração Urbana/ Urban Exploration, Janeiro, 2007. Disponível em: http://invisiblered.blogspot.com/2007/01/explorao-urbana-urban-exploration.html. Acesso em: 30/08/2010.

5  A ideia de catadores, utilizada por Hernández, origina-se do sentido figurado atribuído aos “catadores” contemporâneos no filme de Agnès Vardá (“Les Glaneurs et La Glaneuse”, 2000), e é utilizada para pessoas que com o gesto de “apropriar-se dos restos”, estavam realizando um ato de subversão, na medida em que rompiam com o papel a elas atribuído pela cadeia de consumo. Com isso, inventam uma nova subjetividade com base em uma subversão do dualismo vendedor/consumidor.

BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

BAUDRILLARD, Jean.O sistema dos objetos. São Paulo: Perspectiva, 2008.

CIDADE, Daniela Mendes.Olhar e movimento: a fotografia como prática de assimilação da arquitetura. Artigo publicado em: X Encontro de Teoria e História da Arquitetura do Rio Grande do Sul, Caxias do Sul, EDUCS, 2006.

ENTLER, Ronaldo. A fotografia e as representações do tempo. Revista Galáxia, São Paulo, nº14, p. 29-46, dez. 2007.

FERREIRA, Beatriz Rodrigues. ROCHA, Ana Luiza Carvalho. Os passos pedem passagem: Um ensaio fotoetnográfico sobre ruínas de estações ferroviárias no sul do RS. Discursos fotográficos, Londrina, v.6, n.8, p. 213-230, jan/jun. 2010.

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ROUILLE, André. A fotografia entre documento e arte contemporânea. São Paulo: Senac, 2009.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas, SP. Editora Unicamp, 2007.

VIANNA, Klauss. A dança. São Paulo: Summus, 2008.

1  Marielen Baldissera, Impermanências, 2012, fotografia digital, 75x50cm. Fonte: Acervo pessoal.

2  Marielen Baldissera, Impermanências, 2012, fotografia digital, 75x50cm. Fonte: Acervo pessoal.

3  Marielen Baldissera, Impermanências, 2012, fotografia digital, 75x50cm. Fonte: Acervo pessoal.

4  Marielen Baldissera, Impermanências, 2012, fotografia digital, 75x50cm. Fonte: Acervo pessoal.

5  Marielen Baldissera, Impermanências, 2012, fotografia digital, 75x50cm. Fonte: Acervo pessoal.

6  Marielen Baldissera, Impermanências, 2012, fotografia digital, 75x50cm. Fonte: Acervo pessoal.